Máquinas sabem contar uma notícia?

Escrito em 14/04/2023
AlunosJOR Jornalismo UFSC

Robots especializados em texto e imagem já estão sendo utilizados pelo jornalismo



Reprodução: ZDNET


Com o avanço da tecnologia e da globalização, as chamadas “Inteligências Artificiais” (IA) têm conquistado espaço e chegaram a atingir mais de 100 milhões de usuários ativos mensais no mundo em janeiro deste ano, de acordo com a Forbes. Segundo a Wikipedia, a inteligência artificial é a inteligência demonstrada por máquinas ao executar tarefas complexas associadas a seres inteligentes. As máquinas prometem substituir o agente humano, mudando as formas de vida e as experiências cotidianas.
Quem trabalha com a produção e edição de conteúdos multimídia tem percebido transformações que acabam por redesenhar as rotinas e até a identidade do profissional. No jornalismo, não é diferente. Na profissão, o uso de robots de texto e imagem como ChatGPT e Midjourney está crescendo rapidamente. Especialistas questionam sobre os limites e implicações do uso das IAs no meio jornalístico.
A IA pode, por exemplo, automatizar tarefas como a transcrição de entrevistas e a edição, de modo que os jornalistas teriam mais tempo para executar funções que demandam habilidades humanas, como a investigação e a análise crítica. Além disso, a inteligência artificial também pode ser usada para personalizar a produção de notícias, com base nos interesses e comportamento dos leitores, aumentando o engajamento e a fidelidade dos interlocutores.
A redação da GloboNews já experimentou o ChatGPT, de acordo com o editor Aldir Cony.


“Já usei IA no trabalho de algumas formas diferentes. Primeiro como um teste, coloquei o ChatGPT para fazer o meu trabalho [de edição]. Surpreendentemente, o fez muito bem. Depois, utilizamos pra valer, para uma matéria que ia ao ar justamente sobre esse assunto. Deixamos claro no texto que, o que você ouviu agora foi gerado pelo próprio ChatGPT. Eu acho que isso é um alerta importante”, afirma o jornalista.

Aldir Cony - Foto: Acervo Pessoal


Por outro lado, a IA também apresenta alguns desafios. A sua capacidade de criar imagens e vídeos falsos faz com que o risco de produção de fake news (notícias falsas) seja cada vez maior. Cony complementa: "Existe uma série de usos negativos dessa tecnologia, como a criação de textos e imagens falsas, como aquela imagem do Papa usando um casaco que viralizou recentemente”.


Reprodução/Reddit/Midjourney


Ele conclui: “Como qualquer tecnologia, ela pode ser usada para o bem e para o mal. Isso acontece desde o avião, até a internet, tudo depende da forma como as pessoas utilizam. Hoje em dia, o jornalista que está ciente da possibilidade de existirem informações falsas em todo local, larga na frente em relação aos outros”, avalia o jornalista.


Robots de texto e um novo jornalismo

O uso dos robots na produção jornalística vem suscitando debates na redação e no mundo acadêmico. Laura Cabral é jornalista, mestra em jornalismo (UFPB) e pesquisadora de softwares de texto e imagem automatizados. O estudo que ela conduziu a respeito do tema, mostrou que as IAs vão demandar um domínio dos jornalistas especialmente sobre programação. Além disso, a pesquisadora chamou a atenção para os dilemas éticos da nova realidade da produção de notícias pela necessidade de uso com cautela.


“O que nós fazemos com a inteligência artificial e com as tecnologias é onde está a problemática. As pessoas distorcem ou até mesmo fazem mau uso. (...) O que a gente faz com elas é que é a questão”.

Laura Cabral - Foto: Acervo Pessoal