Afro empreendedorismo – cultura empreendedora ou necessidade?

Escrito em 16/04/2023
Rita Paulino


O empreendedorismo é o ato de criar um negócio como forma de suprir alguma demanda do mercado, ou como uma alternativa de inserção profissional. Essa atividade vem sendo cada vez mais estimulada, inclusive por meio de políticas públicas, justamente por causa das condições adversas do mercado de trabalho atual. Com isso, nasce uma cultura empreendedora que promete benefícios, mas pode ser resultado da fragilização dos direitos dos trabalhadores. 

Nesse cenário, o afroempreendedorismo surge como uma possibilidade de trabalho e renda; existe pela cultura da necessidade, pela procura de liberdade e pela falta de opção. De acordo com os dados da pesquisa do Afroempreendedorismo Brasil em 2021, a principal motivação para empreender é justamente a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho formal. A pesquisa também revelou que o acesso a linhas de crédito específicas para empreendedores e o uso de tecnologias digitais são os principais desafios para os que se arriscam na área. 

Para mulheres negras, preteridas no mercado de trabalho formal, a criação do próprio negócio pode se apresentar como uma única alternativa profissional e de sustento. Essa realidade foi vista de perto durante nossa produção jornalística sobre afroempreendedorismo: das três principais entrevistadas todas relataram ter sofrido preconceitos no trabalho devido a sua cor e seu fenótipo negro, como o cabelo crespo. Duas das entrevistadas afirmaram que não sabem mexer muito bem nas redes sociais para alavancar seus negócios. 

As empreendedoras Rô Freitas, Adelia Domingues e Cristiane Oliveira são exemplos da busca por sobrevivência desde muito novas. Mulheres, principalmente mulheres pretas, caminham em conjunto, mesmo sem se conhecerem, para driblar as adversidades. 

O negócio, que surge da discriminação das pessoas negras no mercado de trabalho, também tem sua origem na exclusão desta população como consumidora. Os produtos dos afroempreendedores compreendem necessidades e desejos desconsiderados pela grande indústria, como bonés para pessoas com cabelo afro, maquiagem para pele negra e produtos culturais, por exemplo. Assim, podemos dizer que o afroempreendedorismo enfrenta um sistema excludente.  

Essa reportagem foi produzida no Grupo 3 – Diversidade, Inclusão, Legislação e Justiça no Trabalho – , na 1ª Semana de Produção Jornalística, de 10 a 14 de abril de 2023, no Curso de Jornalismo, da UFSC.

Reportagem e edição: Camila Santos, Gustavo Fidelis, Lethicia Siqueira e Vitória Maire 

Vinheta: Pablo Brito

Identidade visual: Ildo Golfetto

Orientação: Daiane Bertasso, Ildo Golfetto, Isabel Colucci e Melina Ayres

Equipe: Ana Luiza Muniz, Anna Beatriz Vilete de Oliveira, Camila Santos, Clarisse Claro, Felipe Gaiotto Bramuci, Gabriel Ribeiro do Nascimento, Gustavo Fidelis, Isadora Camello, Júlia Venâncio Velho, Juliana Carvalho, Lara Stüpp Schweitzer, Lethicia Siqueira, Leticia Schlemper de Souza Gonçalves, Luana de Almeida Angelo, Marcos Henrique Oliveira de Albuquerque, Maria Clara Lima da Silva, Maria Victória Sampaio, Mariana Oliari, Mariana Tomazi, Vitor Gabriel Both e Vitória Maire

Instagram da 1ª SPJ: www.instagram.com/spj.jorufsc